sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

OS MAGOS

 “A Visita dos Magos” ao rei recém-nascido, narrada pelo evangelista São Mateus (2,1-12), desperta a curiosidade e a imaginação. Várias perguntas ficam abertas, pois as respostas multiplicam-se em hipóteses. Quem eram os magos? E a estrela? Perguntas importantes que estimulam pesquisas. Mas a narrativa, mais do que se preocupar com estas questões, acentua quem está sendo procurado e visitado e a reação dos visitantes.
O termo “magos”, na antiguidade, tem várias significações que vão desde um sentido muito positivo até um sentido negativo. Nos textos do Novo Testamento, esta ambiguidade também está presente. O papa emérito Bento XVI, no livro “A Infância de Jesus”, refletindo sobre a passagem bíblica da visita dos magos diz que “os homens de que fala Mateus não eram apenas astrólogos; eram “sábios”: representam a dinâmica de ir além de si próprio; que é intrínseca à religião; uma dinâmica que é busca da verdade, busca do verdadeiro Deus e, consequentemente, também filosofia no sentido originário da palavra. Desse modo, a sabedoria sana também a mensagem da “ciência”: a racionalidade dessa mensagem não se detinha meramente no saber, mas procurava a compreensão do todo, levando assim a razão à suas possibilidades mais elevadas” (p. 82).
Os magos representam a humanidade e os indivíduos que caminham na história em busca de respostas. Os magos não tinham as mesmas convicções e tradições religiosas dos judeus e nem comungavam das promessas a respeito do messias. Visitando o rei recém-nascido dão ao acontecimento uma marca de universalismo. Um acontecimento que direciona para o diálogo e os valores disseminados nas várias culturas e diferentes procuras religiosas e humanas.
A narrativa evangélica da visita está marcada pela luz e alegria. A estrela que guia dá rumo à busca. A luz atingiu o coração dos magos e podem ver a sua esperança realizada, pois encontraram quem estavam buscando. A luz natural da estrela aponta para Jesus Cristo luz do mundo. Quando encontraram o menino se prostraram. Era a maneira cultural para apresentar-se diante do rei e a oferta de presentes completa a homenagem. Ouro, incenso e mira são dons que exprimem um reconhecimento da dignidade real daquele a quem são oferecidos.
Contrasta na narrativa a figura de Herodes.  A busca dos magos faz com que ele fique alarmado, mande fazer buscas secretas, queira falsamente “homenagear o menino”. Da parte dos magos temos a busca aberta, pública e sincera. De um lado acolhida e de outro a rejeição. É o mistério da liberdade humana que pode acolher ou rejeitar. Situação que não deve escandalizar e nem provocar ódios ou atitudes de rejeição. Pelo contrário convida a uma atitude de tolerância, de inteligência e de diálogo com os vários posicionamentos possíveis diante da presença do Deus menino.

Ao final, a narrativa evangélica ressalta que os magos retornaram para a sua terra seguindo outro caminho. Não faltam reclamações e lamentações sobre os caminhos que o mundo tem tomado: caminhos de violência explícita, da valorização da força bruta, da exclusão social de grande parcela da população para sustentar privilégios de alguns, das maquinações nos subterrâneos dos que detêm os poderes. Os magos, por serem sábios, encontraram Deus na fragilidade de uma criança que os fez optarem por um novo caminho, pois viram algo surpreendente. A atitude dos magos desafia a todos nós.
Dom Rodolfo Luís Weber

Arcebispo de Passo Fundo

Fonte: CNBB

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