“A Visita dos Magos” ao rei
recém-nascido, narrada pelo evangelista São Mateus (2,1-12), desperta a
curiosidade e a imaginação. Várias perguntas ficam abertas, pois as respostas
multiplicam-se em hipóteses. Quem eram os magos? E a estrela? Perguntas importantes
que estimulam pesquisas. Mas a narrativa, mais do que se preocupar com estas
questões, acentua quem está sendo procurado e visitado e a reação dos
visitantes.
O termo “magos”, na antiguidade, tem
várias significações que vão desde um sentido muito positivo até um sentido
negativo. Nos textos do Novo Testamento, esta ambiguidade também está presente.
O papa emérito Bento XVI, no livro “A Infância de Jesus”, refletindo sobre a
passagem bíblica da visita dos magos diz que “os homens de que fala Mateus não
eram apenas astrólogos; eram “sábios”: representam a dinâmica de ir além de si
próprio; que é intrínseca à religião; uma dinâmica que é busca da verdade,
busca do verdadeiro Deus e, consequentemente, também filosofia no sentido
originário da palavra. Desse modo, a sabedoria sana também a mensagem da
“ciência”: a racionalidade dessa mensagem não se detinha meramente no saber,
mas procurava a compreensão do todo, levando assim a razão à suas
possibilidades mais elevadas” (p. 82).
Os magos representam a humanidade e
os indivíduos que caminham na história em busca de respostas. Os magos não
tinham as mesmas convicções e tradições religiosas dos judeus e nem comungavam
das promessas a respeito do messias. Visitando o rei recém-nascido dão ao
acontecimento uma marca de universalismo. Um acontecimento que direciona para o
diálogo e os valores disseminados nas várias culturas e diferentes procuras
religiosas e humanas.
A narrativa evangélica da visita está
marcada pela luz e alegria. A estrela que guia dá rumo à busca. A luz atingiu o
coração dos magos e podem ver a sua esperança realizada, pois encontraram quem
estavam buscando. A luz natural da estrela aponta para Jesus Cristo luz do
mundo. Quando encontraram o menino se prostraram. Era a maneira cultural para apresentar-se
diante do rei e a oferta de presentes completa a homenagem. Ouro, incenso e
mira são dons que exprimem um reconhecimento da dignidade real daquele a quem
são oferecidos.
Contrasta na narrativa a figura de
Herodes. A busca dos magos faz com que ele fique alarmado, mande fazer
buscas secretas, queira falsamente “homenagear o menino”. Da parte dos magos
temos a busca aberta, pública e sincera. De um lado acolhida e de outro a
rejeição. É o mistério da liberdade humana que pode acolher ou rejeitar.
Situação que não deve escandalizar e nem provocar ódios ou atitudes de
rejeição. Pelo contrário convida a uma atitude de tolerância, de inteligência e
de diálogo com os vários posicionamentos possíveis diante da presença do Deus
menino.
Ao final, a narrativa evangélica
ressalta que os magos retornaram para a sua terra seguindo outro caminho. Não
faltam reclamações e lamentações sobre os caminhos que o mundo tem tomado:
caminhos de violência explícita, da valorização da força bruta, da exclusão
social de grande parcela da população para sustentar privilégios de alguns, das
maquinações nos subterrâneos dos que detêm os poderes. Os magos, por serem
sábios, encontraram Deus na fragilidade de uma criança que os fez optarem por
um novo caminho, pois viram algo surpreendente. A atitude dos magos desafia a
todos nós.
Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo
Fonte: CNBB
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