Na Liturgia, o Tempo do Natal vai até
o Batismo de Jesus, festa que já foi celebrada durante esta semana. Passado o
Batismo do Senhor, agora tem começo o Tempo Comum. Por conseguinte, o domingo
de hoje é o segundo do Tempo Comum, tempo este que vai até a terça-feira antes
da Quaresma. Como se sabe a Quaresma começa com a quarta-feira de cinzas.
O Evangelho da santa Missa deste 2º
domingo do Tempo Comum – Jo 1,35-42 – conta que Jesus passou por onde João
Batista se encontrava com dois de seus discípulos. Vendo Jesus passar, João
disse: “Eis o Cordeiro de Deus”. Os dois discípulos puseram-se a seguir Jesus,
mas a certa distância. Então, Jesus voltou-se para eles e, vendo que o estavam
seguindo, perguntou: “O que estais procurando?” Eles disseram: “Rabi (mestre),
onde moras?” Jesus respondeu: “Vinde ver”. Eles foram e, nesse dia,
permaneceram com Jesus. A experiência deve ter sido fascinante, tanto assim que
André, um dos dois, foi rapidamente encontrar o seu irmão Simão para lhe dizer:
“Encontramos o Messias” (Cristo). E levou Simão até Jesus. Jesus olhou bem para
ele e disse: “Tu és Simão, filho de João; tu serás chamado Cefas (pedra). Aqui
termina a leitura do trecho de hoje.
Chama à atenção a maneira como o
Evangelista João conta como se deu a vocação de André e de seu companheiro
desconhecido, que se acredita seja João, o autor deste Evangelho. Difere da
maneira como conta São Marcos. Em Marcos, é Jesus quem toma a iniciativa de
procurar e chamar os discípulos. Basta lembrar como Jesus chamou as duplas de
irmãos Pedro e André, Tiago e João, pescadores do mar da Galiléia, atraindo-os
a se tornarem “pescadores de homens” (cf. Mc 2, 16-20). Aqui, conforme São
João, são os dois jovens que andam à procura do Messias e, em face da
orientação dada pelo Batista de que é o Cordeiro de Deus que ora por ali
passava, eles O seguem, permanecendo à distância, mas com o desejo de
conhecê-Lo. Então, Jesus se volta para eles e pergunta: “Que estais
procurando?” Eles respondem com outra pergunta: “Rabi, onde moras?” Jesus diz:
“Vinde ver”. Só sabemos que eles passaram um dia com Jesus, e que essa
experiência bastou para que se sentissem transformados e o seguissem para
sempre. O modo de viver de Jesus os impressionou profundamente. André foi
correndo dar a notícia a Pedro: “Encontramos o Messias”. E o levou até Jesus.
Certamente, as palavras que Jesus dirigiu a Pedro causaram-lhe forte impressão,
mas o que o marcou no fundo do coração foi o olhar de Jesus. As palavras de
Jesus, trocando-lhe o nome logo neste primeiro contato vocacional, Pedro por
certo não as entendeu nem poderia compreendê-las naquela hora, mas aquele olhar
penetrou-lhe a alma e fixou-se nele para sempre. Um olhar que voltará a se
repetir em outros momentos e circunstâncias na vida de Pedro. Um olhar
misterioso como só o pode ser o olhar de Deus, em que muitas vezes nem precisou
de palavras.
Como ouvimos, o desejo dos dois
discípulos era bem simples. Eles apenas queriam ver Jesus vivendo num dia comum
de sua vida, como convivia com os outros, comia, descansava, rezava, se ocupava
com pessoas e coisas. Nada mais. Não estavam querendo aprender as doutrinas e
os ensinamentos do Mestre. Fosse para isso, como discípulos de João que eram,
sabiam que precisariam frequentar um longo discipulado. Antes, porém, desejavam
conhecer a pessoa, quem é Jesus, o que significa ser o “Cordeiro de Deus”? Isso
seria suficiente. Por isso, eles perguntaram a Jesus: “Onde moras?”. Se Jesus
lhes tivesse passado o seu endereço, eles perguntariam sobre marcar uma hora
para um encontro, uma visita. Jesus, porém, que conhece o segredo dos corações,
já adiantou o convite para o aqui e agora: “Vinde ver”. Essa experiência do
encontro com Jesus foi para eles muito mais importante do que aprender
conhecimentos e verdades. Em consequência, eles não só se inscreverão na escola
do discipulado de Jesus como começaram, desde já, a se tornar suas testemunhas
para que outros se dispusessem a segui-Lo, como André fez logo com Pedro.
Dom Caetano Ferrari
Bispo de Bauru (SP)
Fonte:CNBB
Nenhum comentário:
Postar um comentário