O governo
brasileiro suspendeu a visita ao País do relator da Organização das Nações
Unidos (ONU) para a dívida, Juan Pablo Bohoslavsky, que ocorreria entre os dias
18 e 30 de março. Ele faria um exame do impacto das medidas de austeridade
implementadas pelo governo nas áreas sociais, de educação e saúde.
A reportagem apurou
que, no governo, a justificativa é que a viagem foi apenas adiada por causa da
saída da ministra de Direitos Humanos, Luislinda Valois, demitida pelo
presidente Michel Temer (MDB). Em função da "transição" no
ministério, a viagem teria sido adiada. Mas, na ONU, fontes revelaram à
reportagem que nenhuma nova data foi apresentada pelo governo para que a nova
visita possa ocorrer.
A viagem teria
lugar em meio ao debate da reforma da Previdência e em um momento de debate
político sobre eventuais candidaturas para as eleições no segundo semestre.
Para a entidade
Conectas, a suspensão da viagem é uma notícia ruim.
"Sua visita
seria uma oportunidade para que pudéssemos ter mais informações sobre os
impactos da Emenda Constitucional 95", disse Jefferson Nascimento,
representante da organização não governamental (ONG).
O Brasil estende um
convite permanente para que todos os relatores da ONU visitem o País. Mas
apenas condiciona a visita a uma organização de datas e calendários. Segundo a
Conectas, Bohoslavsky seria o único relator da ONU a visitar o Brasil no
primeiro semestre do ano. Para a segunda parte do ano, a eleição deve
dificultar qualquer tipo de vinda.
No ano passado, o
governo brasileiro votou contra uma resolução que renovava o mandato do relator
da ONU para avaliar o impacto de políticas fiscais em direitos humanos. Ao lado
de Estados Unidos, Europa e Japão, o Itamaraty alegou que a proposta ia além do
mandato que a entidade poderia dar a um relator para examinar políticas
econômicas nos diferentes países.
No projeto de
texto, os governos "reconheciam que programas de ajustes estruturais
limitam os gastos públicos, impõe tetos de gastos e dão atenção inadequada para
serviços sociais". O texto ainda indicava que apenas "poucos países
podem crescer" diante dessas condições.
O governo de Michel
Temer não aceitou o texto na ONU. Ao discursar, a embaixadora do Brasil na ONU,
Maria Nazareth Farani Azevedo, insistiu que acredita que governos possam fazer
ajustes fiscais e, ainda assim, ser "consistente" com os serviços
sociais que oferece a sua população.
"A expansão de
gastos públicos nos níveis observados nos últimos anos não iria garantir
progresso social no Brasil. Pelo contrário, a estrutura dos gastos públicos não
seria sustentável, com efeitos desastrosos para nossa economia e que poderiam
colocar em risco os avanços sociais que queremos proteger", completou.
Apesar do voto
contrário do Brasil, a resolução acabou sendo aprovada no Conselho de Direitos
Humanos da ONU, por 31 votos a favor e 16 contra.
O projeto, proposto
por Cuba, renovava o mandato do relator independente da ONU por três anos para
avaliar "o impacto da dívida externa e outras obrigações financeiras dos
Estados no total desfruto de direitos humanos". Sua função é
essencialmente a de examinar medidas de austeridade e exigências financeiras
internacionais em políticas sociais, de educação e saúde.
Fonte:
Estadão Conteúdo
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