sábado, 10 de fevereiro de 2018

CARNAVAL, A VIVÊNCIA DA FÉ CRISTÃ E O CUIDADO COM OS SÍMBOLOS RELIGIOSOS

Desfile Unidos de Vila Maria 2017. Foto: Luciney Martins/ O São Paulo

Pelos próximos quatro dias parte do povo brasileiro estará mergulhado em meio a plumas, paetês, gliter, fantasias; muitas marchinhas, sambas de enredo, axé e alegria. É Carnaval, uma festa que já faz parte da vida cultural do nosso país.
“O Carnaval não é uma festa proibida para os cristãos, o que a Igreja condena são os exageros”, disse padre Jair Rodrigues, de Brusque (SC) durante entrevista a uma rádio local. Pensamento bem oportuno neste período em que boa parte das pessoas se prepara para se divertir durante o feriado. Para o padre, cada indivíduo deve buscar na festa a beleza da confraternização, da alegria sem necessariamente cair nos abusos.
Para o  bispo auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre (RS), dom Leomar Brustolin, numa sociedade como a atual, os cristãos convivem com pessoas que cultivam diferentes valores, crenças e costumes. Essa pluralidade não pode ser um problema para um discípulo de Jesus Cristo que nada antepõe ao seguimento do Mestre.
“Por isso, no Carnaval o cristão evita duas posições: a omissão de quem aceita tudo em nome da alegria do momento, ou a demonização de quem só vê o pecado reinando. O discernimento supõe perceber que a alegria, a convivência, a música e a dança são expressões culturais importantes em todos os povos”.
O livro do Eclesiastes (9, 15ss) a palavra diz: “Por isso louvei a alegria, visto não haver nada de melhor para o homem (…) é isto que o acompanha no seu trabalho, durante os dias que Deus lhe outorgar debaixo do sol”. Já nos Provérbios (2,14-15), o Senhor lembra que há limites, pois são reprovados os “que se alegram por terem feito o mal e se regozijam na perversidade do vício, cujos caminhos são tortuosos e se extraviam por vias oblíquas”.
Durante o feriado do Carnaval é importante o cuidado com a preservação da fé e, principalmente, o cuidado com a vida. Neste período, muitas pessoas aproveitam essa data para extravasarem seus desejos, influenciados pela sensação de ”liberdade”, em que tudo é permitido.

É comum, portanto, vermos nos carnavais a presença do excesso: de bebidas, de drogas, do apelo sexual etc. Tal comportamento vem acompanhado do vazio, da “ressaca moral”. Situações que ocorrem também em outras épocas do ano, não apenas no carnaval.
Dom Leomar ressalta que alguém poderá dizer que é improvável que a maioria dos foliões consiga superar os excessos que são comuns aos festejos carnavalescos. Mas o que é improvável não é impossível. Em diferentes épocas, os seguidores de Jesus precisaram testemunhar que sua fé não os apartava do mundo, tampouco os obrigava a fazer concessões de todo tipo para serem aceitos na sociedade. Tomemos o exemplo da Carta a Diogneto, um escrito do século II que retrata a vida dos seguidores de Jesus naquele contexto: Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens, nem por sua terra, nem por sua língua ou costumes. (…) e adaptando-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal.
Segundo a Enciclopédia Larousse Cultural, o termo Carnaval vem do latim medieval carnelevarium, carnilevaria, carnilevamem, que significa “abster-se, afastar-se da carne”. Era um período anual de festas profanas e hoje corresponde ao período de três dias, que antecede a Quarta-Feira de Cinzas, vésperas da Quaresma – período durante o qual é recomendada a prática da penitência e abstinência de carnes vermelhas.
Dom Leomar Brustolin salienta que num país onde o Carnaval faz parte da cultura, os cristãos compreenderão essa festa como uma oportunidade de expressar que é possível ser feliz sem cometer infidelidades ao ensinamento de Cristo. O paradoxo consiste em festejar a beleza da convivência, sem apelar para os recursos que mascaram a verdade e a bondade que devem marcar a existência humana.
Fonte: CNBB



Nenhum comentário:

Postar um comentário