quinta-feira, 1 de março de 2018

OS MANDAMENTOS


Falar em mandamentos, normas e exigências éticas e morais muitas vezes se torna odioso diante da vontade pessoal, da vontade de autodeterminação e escolha sem exigências. Até religiões e grupos mais exigentes nessa perspectiva são deixados de lado para uma vida pessoal e relacional mais relaxada. Buscam-se, às vezes, religiões mais convenientes ao consumo pessoal sem muito compromisso com a transformação da conduta pessoal e social. A autonomia para se fazer o que se quer, sem necessidade de seguir preceitos, é muito comum e desastroso na atualidade. O “eu quero e preciso ser feliz” às vezes não contempla um ideal mais elevado a se conquistar, em vista de valores mais duradouros e que superem a delícia ou o bem estar considerado no gozo efêmero de algo que traga momentaneamente algum prazer ou benefício. Nem sempre se quer sacrificar tempo, benefício instintivo ou satisfação de instintos em bem de busca de algo, valor, altivez de caráter e grandeza de ideal. A felicidade de um valor conquistado com renúncias de satisfações momentâneas é muito maior do que essas mesmas satisfações. Aliás, sem prática e exercitação que exigem sacrifício, não se conquista um ideal ou felicidade duradoura, em vista daquele valor maior.
Por outro lado, não vivemos só de vantagens instintivas passageiras. No convívio humano temos que obedecer a regras e princípios que  nos tornam mais humanos e solidários. Por não se obedecerem às regras de trânsito, em sua grande parte, mais de cinquenta mil pessoas morreram nas estradas do Brasil no ano passado. A violência levou à prática de mais de sessenta mil pessoas assassinadas nesse mesmo ano. Parece estarmos em verdadeira guerra civil, com mortes até em número maior do que em países que vivem em guerra declarada!
Deus nos dá mandamentos que são libertadores e nos causam um bem amplo (Cf. Êxodo 20,1-17).  Jesus explicita bem os mandamentos, com o exemplo pessoal de só fazer o bem a todos. Quem desobedece aos mandamentos divinos, perde muito em realização própria e de serviço a uma convivência humana no planeta. Quem quer só fazer as próprias leis individuais e sociais, desrespeitando as divinas, tira o enfoque do sentido da vida. A base dos mandamentos divinos está no amor amplo e causador da felicidade geral do ser humano. Ao contrário, vemos a prática do egoísmo, que leva a todos os desmandos: guerras, ódios, injustiças, exclusões, incompreensões, fome, miséria, violência e todo tipo de desumanidade.
Por isso, toda pessoa de bem e boa reflexão vai se colocar como verdadeira discípula da causa e da prática do amor, tornando-se missionária ou anunciadora dos valores dos mandamentos ou orientações divinas para o bem de todos, da defesa da vida e do meio ambiente.
O apóstolo Paulo não tem medo de apregoar a necessidade da imitação de Cristo que assumiu o sacrifício de si, até com o martírio, para realizar o projeto de Deus Pai (Cf. 1 Coríntios 1,21-25). Querer a felicidade da conquista de um ideal maior de vida exige a sintonia com o projeto divino, mas tendo-se que fazer a ascese, ou exercitação na prática dos valores divino-humanos.

Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros (MG)
Fonte: CNBB

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