Regional Sul
vem a público manifestar sua indignação e pedir agilidade nas investigações
para apurar as circunstâncias, as motivações e os responsáveis pelo
assassinato, na madrugada do dia 1º de janeiro de 2018, do professor Marcondes
Namblá Xokleng (na foto acima).
O professor
Marcondes era da Terra Indígena Laklãnõ, que fica no município de José Boiteux,
no Vale do Itajaí.Marcondes foi
espancado a pauladas na praia da Penha, no litoral norte de Santa
Catarina. Era professor formado pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC). Conforme informações veiculadas pela imprensa, imagens de
câmeras de monitoramento mostram o momento em que Namblá foi
espancado por um homem que estava com um cachorro andando de um lado para o
outro numa calçada, na Avenida Eugênio Krause, no bairro Armação. Em uma
das mãos o homem portava um pedaço de madeira.
Marcondes, ao
que parece, foi abordado pelo homem, ocasião em que trocaram algumas palavras.
No momento seguinte, quando o indígena já se encontrava de costas para o
agressor, este desferiu-lhe uma paulada na cabeça. Marcondes caiu no chão e o
agressor, antes de fugir, covardemente continuou a desferir-lhe pauladas.
Namblá foi encontrado desacordado por volta das 5 horas, quando então foi
levado para atendimento no Hospital Marieta Konder Bornhaunsen, em Itajaí, mas
não resistiu aos ferimentos. Conforme familiares, Marcondes, juntamente com
outros indígenas, estava na praia para vender seus produtos.
O Cimi Sul vem
alertando, ao longo dos últimos anos, sobre a onda de intolerância contra
indígenas no litoral de Santa Catarina, especialmente manifestada por
autoridades municipais que não aceitam o fato de os indígenas frequentarem as
praias. E quando prefeitos, vereadores, secretários municipais e alguns meios
de comunicação passam a veicular informação ou a proferir discursos contra os
indígenas, uma boa parcela da população se sente legitimada a agir contra os
indígenas, tentando repeli-los da região. No período do verão, os indígenas se
dirigem ao litoral para a exposição e comercialização de seus produtos,
especialmente o artesanato.
Cabe-nos,
neste momento, lembrar do terrível acontecimento em Imbituba, litoral de Santa
Catarina, no dia 30 de dezembro de 2016, quando o pequenino Vitor Kaingang, com
dois anos de idade, acabou sendo degolado por um desconhecido, enquanto era
alimentado pela mãe. Passados dois anos, a vítima, dessa vez, foi um professor
indígena morto a pauladas.
Alguns dirão
que não há relação entre os dois crimes. O Cimi Sul, que acompanha os povos
indígenas, suas lutas e desafios, vem denunciando que a intolerância tem
aumentado significativamente nos últimos anos. As manifestações ocorrem em
rede, especialmente através da internet, de alguns jornais, de alguns programas
de rádios e televisivos, ferramentas que lamentavelmente acabam sendo usadas
para estimular o ódio contra indígenas, negros e estrangeiros oriundos de
países mais pobres.
No entender do
Cimi há sim uma conexão entre o crime de Imbituba e de Penha porque são
consequências do contexto de intolerância étnica e anti-indígena. Cabe ao poder
público dar o exemplo e tentar, através das redes de justiça e do direito,
extirpar esta tendência racista, homofóbica e xenofóbica que avança pelo país,
mas especialmente na Região Sul.
O Cimi chama a
atenção do Ministério Público Federal (MPF), da Fundação Nacional do Índio
(Funai), do Ministério da Justiça, da Secretaria Especial de Saúde Indígena
(Sesai) para a necessidade de ampliar o diálogo com as autoridades municipais –
especialmente as situadas no litoral – para que acolham com respeito os
indígenas e lhes resguardem os direitos de ir e vir, de frequentar as praias,
de percorrerem avenidas, ruas e estradas. Que eles tenham o direito de
comercializar seus produtos.
Por fim, há
urgência no combate às violências físicas, mas é igualmente urgente coibir
aqueles que propagam o ódio, a intolerância e o desrespeito ao modo de ser dos
indígenas. Há que se combater o crime de racismo constantemente veiculado pelas
redes sociais, inclusive nos sites de notícias. E para saber se estes crimes
ocorrem, não há necessidade de muitas investigações ou pesquisas: basta ler
alguns dos comentários que são postados abaixo das notícias que veicularam o
assassinato do professor Marcondes Namblá.
Chapecó,
SC, 03 de janeiro de 2018
Conselho
Indigenista Missionário (Cimi) – Regional Sul
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