Grito dos Excluídos de 2019, em São Paulo (Cidoli)
Celebração do
Grito dos Excluídos de 2020 terá de ser através da internet
Mais
uma vez, desde 1995, a data da independência do Brasil é marcada por
manifestações populares. Elas nos lembram que a independência política,
ocorrida em 1822 está incompleta. Para verdadeira independência, um país deve
garantir vida livre e digna para toda a sua população. Isso supõe superar as
desigualdades sociais e as injustiças delas decorrentes. Por isso, a cada 07 de
setembro, movimentos populares e pastorais sociais da CNBB organizam o Grito
dos Excluídos que se expressa através de concentrações e caminhadas pelas ruas
das cidades.
O
Grito é um gesto profético em defesa da justiça e do direito de todos. Em
outros tempos, bispos profetas se colocavam como voz dos que não tinham voz.
Hoje os próprios excluídos lutam para ter voz e vez no embate por uma plena
cidadania. Neste ano, sua celebração terá de ser através da internet e de forma
mais processual. No entanto, a crise social e sanitária imposta pela pandemia
mundial de Covid-19 e os graves retrocessos sociais impostos pelo atual governo
brasileiro tornam ainda mais necessários o protesto e as manifestações da população
atingida. Por isso, a organização do Grito insiste em proclamar a
preservação da vida em primeiro lugar. Opõe-se a um modo de organizar a
sociedade que aumenta as desigualdades e injustiças. Neste ano, o lema do Grito
será Basta de miséria, preconceito e repressão! Queremos trabalho,
terra, teto e participação!
Por
todo o Brasil, as milhares de pessoas envolvidas nas atividades do Grito
manifestam solidariedade aos quase 120 mil irmãos e irmãs mortos pela Covid-19.
Denunciam o descaso e indiferença com o qual o presidente do país e o seu
governo têm tratado a pandemia. Solidarizam-se às comunidades indígenas e
remanescentes de quilombos, especialmente, atingidas pela pandemia e vítimas da
cruel omissão das autoridades.
O
Grito dos Excluídos também faz referência à urgente necessidade de revogação da
Emenda Constitucional (EC) 95, a chamada Teto de Gastos. A tão falada crise
econômica não pode mais servir de justificativa para tirar direitos da
população e reduzir serviços públicos. Não é justo descarregar sobre a
população mais pobre as consequências do descuido do governo. Os trabalhadores
e trabalhadoras não podem continuar sendo penalizados pela ausência de
políticas públicas, em todas as áreas. Por isso, é urgente revogar essa emenda
constitucional.
Pelo
fato de que, neste momento, ainda não podemos realizar o manifestações em
praças públicas, o coletivo que coordena estabeleceu que todo dia 7 de cada
mês, será um "Dia D do Grito". De fato, o sistema de exclusão e de injustiças
tem sido constante. Por isso, se torna necessário que esta realidade seja
denunciada e combatida durante um tempo maior e através de diversas atividades
que vão se espalhar por este tempo a seguir.
Para
todas as pessoas que seguem tradições espirituais, é importante que a
solidariedade com os setores mais oprimidos e vulneráveis da sociedade seja
considerado como prioridade sagrada. Simone Weil, espiritual francesa da
primeira parte do século 20, afirmava: "Eu reconheço quem é de Deus, não quando
me fala de Deus, mas pelo seu modo de se relacionar com as pessoas e de lutar
pela justiça no mundo".
Todos
sabem que o Brasil é o terceiro país do mundo em desigualdades sociais. Não
poderemos mudar essa realidade apenas com gritos, mas, de fato, o Grito dos
Excluídos é um movimento que se desdobra em iniciativas de organização dos
trabalhadores e debates políticos com propostas alternativas importantes para o
país.
O que
caracteriza a fé judaica e cristã é a relação íntima entre a intimidade de Deus
e o cuidado com a justiça e a solidariedade. Nos evangelhos, Jesus insiste de
que não se pode separar o amor a Deus e o amor aos irmãos e irmãs. Ele revelou
a preferência divina por aquelas pessoas que o evangelho chama de
"pequeninos e objetos da predileção de Deus". Ele as toma como
companhia privilegiada em seus contatos e refeições. E afirma: "Quem
acolhe uma pessoas destas (excluída da sociedade), é a mim que acolhe"
(Mateus 25, 31 ss).
Marcelo Barros
Fonte: domtotal.com
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