Nestes dias tomamos conhecimento da
situação dramática de alguns moradores de rua que se agrediram vindo alguns a
falecer. Infelizmente a violência não diminui e o sofrimento é grande, em
especial das pessoas diretamente atingidas com ela. A vida fica cada vez mais
difícil, em geral para os pobres, neste tempo de crise que atravessamos. Não
percebemos ainda que para educar e reintegrar os moradores de rua, é preciso
reeducar a própria sociedade.
Neste ano, as campanhas eleitorais
terão espaço e a sociedade é chamada a escolher candidatos para cargos
importantes. Promessas, conchavos, disputas, expectativas. Enquanto isto o
alimento, os remédios, aluguéis e transportes desafiam o poder aquisitivo do
salário de quem o tem.
Diante do quadro que nossa realidade
nos delineia, muitos perguntam: onde está Deus? Outros imaginam que a sociedade
pode ir bem sem Ele e existem os que pensam que é a religião a causa das
dificuldades. Outros atribuem à falta de fé em Deus a situação que
atravessamos.
A fé cristã, nos assegura que o
desejo de Deus manifestado em Jesus Cristo é uma sociedade diferente desta que
está aí, onde a justiça social marque todo o relacionamento humano. Assim, cabe
repensar o tipo de sociedade que devemos procurar, repensar a partir da fé em
um Deus que é bom.
É preciso ter metas claras capazes de
organizar valores, despertar idealismo, nutrir a esperança. Nunca devemos
desanimar mas perceber que há energias latentes no coração do povo, estas
energias podem eclodir em explosão caótica, mas também em dinamismo positivo e
transformador das estruturas da sociedade.
A grandeza do ser humano está sem
dúvida na sua abertura a Deus, seu criador e na aceitação de valores éticos que
daí advém, entre os quais a exigência de se construir uma sociedade justa e
fraterna, capaz de fazer feliz a todos.
Qual é a sociedade justa? É aquela
que supera divisões, preconceitos, radicalismos. Sem excluir ninguém coloca a
solidariedade como base. Isto implica numa justa distribuição da renda capaz de
diminuir as diferenças entre os que tudo possuem e os que apenas conseguem
sobreviver. Nesta sociedade todos devem tornar-se promotores do desenvolvimento
individual e comunitário, participando dos frutos do progresso e da cultura.
Fica evidente a necessidade de reformas estruturais para que se estabeleça esta
nova sociedade que todos queremos.
Cabe à Igreja contribuir com a
presença dos valores evangélicos da fraternidade e da justiça, da não violência
e do perdão. E ainda afirmar constantemente que o esforço em prol de uma nova
sociedade deve passar pela eliminação do egoísmo ao mesmo tempo em que se adota
uma atitude pessoal de abertura à transcendência de uma vida para além da
morte, capaz de estimular a comunhão com Deus, com os outros e de todos entre
si.
Deus nos ajude a fazer nossa parte
nesta grande tarefa: a construção de uma sociedade renovada.
Dom Pedro Cipollini
Bispo de Santo André
Fonte: CNBB
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